A Oficina Têxtil

Numa casa de granito, o qual foi recuperada, as Lançadeiras de Picão, fizeram a sua oficina têxtil onde trabalham o linho de uma maneira que nos transportam a tempos já perdidos. Era uma habitação típica da aldeia, de dois andares. O gado vivia aqui, junto das pessoas. Agora serve como sala de trabalho.
Na casa de granito recuperada com o apoio de uns arquitectos americanos, dois teares artesanais assentam a par com teares americanos oferecidos pelo ICA (Instituto de Assuntos Culturais).
A tecelagem foi algo com que as mulheres da alde
ia de Picão sempre conviveram. As aldeias viviam isoladas e a economia rural era de subsistência. Das mãos maravilhosas destas mulheres sai todo o tipo de vestuário e adereços para o lar.
Os teares tradicionais voltaram a funcionar na aldeia de Picão e a tecer o linho e o burel.







"As mãos de Maria da Luz Torres movem-se com uma destreza surpreendente para os seus 64 anos de idade. Os dedos rugosos acariciam suavemente o novelo, enrolando na roca, sentido a textura da lã. Sorri ao sentir o contacto macio dos fios e coloca o pedaço escolhido num tear manual. Afasta as saias negras e, colocando os pés nos pedais, encosta-se à tosca armação de madeira, carcomida pelo tempo e pela bichagem. Os seus olhos brilham no interior da pequena casa de granito e a boca abre-se, de novo, num sorriso rasgado e bonito. Então, cumprindo um ritual antigo, a anciã faz passar o frágil e singular fio ao longo das agulhas brilhantes. Este é só o primeiro gesto. Logo outro se seguirá. E ainda outro. Milhares de pequenos gestos - coordenados entre os pés que accionam os pedais e as mãos ágeis - que darão origem a um rude colete de burel ou a uma capucha. Daqueles que, outrora, protegiam os pastores dos rigores do Inverno serrano."(1)

(1) Linho e Burel Os tecidos ancestrais
, Paulo Caetano e Rui Vasco, Da Terra: Doze viagens pelos caminhos da tradição, Má Criação, 2005.